Manuel Botelho de Oliveira

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MANOEL BOTELHO DE OLIVEIRA

300 anos da morte de Manuel Botelho de Oliveira”
“O primeiro autor brasileiro a ter um livro publicado”

Manuel Botelho de Oliveira 1636 – 1711- nasceu na Bahia, cursou e formou-se em Direito na Universidade de Coimbra (Portugal). Aonde foi companheiro de estudos de Gregório de Matos; advogou na terra natal, fez-se político, teve excelente instrução das línguas latina, castelhana e italiana, além da portuguesa. Em Coimbra, hauriu largos conhecimentos gongóricos, vindo a ser, no Brasil, o mais credenciado representante do culteranismo.
Inferior, em talento, a Gregório de Matos - talvez por isso mesmo, Botelho abusou do estilo barroco. De volta ao Brasil, passou a exercer a advocacia; também foi vereador da Câmara de Salvador BA.
Em 1694 tornou-se capitão-mor dos distritos de Papagaio, Rio do Peixe e Gameleira, cargo obtido em função de empréstimo de 22 mil cruzados para a criação da Casa da Moeda na Bahia. Em 1705 quando tinha quase 70 anos, ocorreu em Lisboa (Portugal) a publicação de “Música do Parnasso”, o primeiro livro impresso de autor nascido no Brasil. escrito nas quatro línguas que conhecia. No prólogo do livro, explicou que assim procedeu "para que se entenda que pode uma só Musa cantar com diversas vozes" Composto de sonetos, madrigais e canções. Englobando, inclusive, 42 sonetos, o titulo todo da obra é: "Música do Parnaso, dividida em quatro coros de rimas, Portuguesas, Castelhanas, 'Italianas e Latinas, com seu descante cômico reduzido em duas comédias". Enquanto isso, a obra de Gregório de Matos só veio a ser publicada no séc. XIX,
O fato que não tira a Gregório o privilégio de ter sido, cronologicamente, o primeiro poeta e sonetista brasileiro. O próprio Manuel Botelho de Oliveira, louvado e quase glorificado em vida, sabia que não era o poeta mais antigo, mas apenas o primeiro a ver "impressas" suas produções. "Música do Parnaso" foi, na expressão de Péricles Eugênio da Silva Ramos, "a primeira obra poética de autor brasileiro que recebeu o benefício do prelo".
No entanto, segundo o crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos, “uma das composições da Música do Parnasso tem caráter diferente das demais: é a silva 'À Ilha da Maré', gabada por seu nativismo, ou seja, pela exaltação dos frutos e legumes, que são colocados pelo poeta muito acima dos de Portugal. É composição por vezes sem grande tato, mas deu origem a uma fila de trabalhos ufanistas, de Santa Maria Itaparica a Santa Rita Durão.”
(...)
As plantas sempre nela reverdecem,e nas folhas parecem,desterrando do Inverno os desfavores,esmeraldas de Abril em seus verdores,e delas por adorno apetecidofaz a divina Flora seu vestido.As fruitas se produzem copiosas,e são tão deleitosas,que como junto ao mar o sítio é posto,lhes dá salgado o mar o sal do gosto.As canas fertilmente se produzem,e a tão breve discurso se reduzem,que, porque crescem muito,em doze meses lhe sazona o fruito,e não quer, quando o fruto se deseja,que sendo velha a cana, fértil seja.As laranjas da terrapoucas azedas são, antes se encerratal doce nestes pomos,que o tem clarificado nos seus gomos;mas as de Portugal entre alamedassão primas dos limões, todas azedas.Nas que chamam da Chinagrande sabor se afina,mais que as da Europa doces, e melhores,e têm sempre a ventagem de maiores,e nesta maioria,como maiores são, têm mais valia.Os limões não se prezam,antes por serem muitos se desprezam.Ah se Holanda os gozara!Por nenhuma província se trocara.
(...)
Na dedicatória de seu livro, diz a D. Nuno Álvares Pereira de Melo, Duque do Cadaval, em meio a exageradíssimos elogios ao homenageado, o seguinte: "Ao meu entendimento, posto que inferior aos de que é tão fértil este pais, ditaram as Musas as presentes rimas, que me resolvi expor à publicidade de todos, para ao menos ser o primeiro filho do Brasil, que faça pública a suavidade do metro, já que o não sou em merecer outros maiores créditos na Poesia. Nesta America inculta, habitação antiguamente de Barbaros Indios”, mal se poderia esperar que as “Musas se fizessem brasileiras”, mas passaram para esse país onde “encontrarão muitos engenhos que imitam aos Poetas de Itália e de Espanha”. Foi dessa forma que Manoel Botelho passou à história brasileira, embora pense e escreva como um europeu. No final da obra, acrescenta duas comédias: Hay amigo para Amigo e Amor, Engaños y Celos. Esta primeira edição de Musica do Parnasso, datada de 1705, é hoje obra muito rara. Queremos prestar uma homenagem a Manuel Botelho de Oliveira, transcrevendo aqui o seu soneto "Rosa, e Anarda" (Soneto XX), em cujas imagens não se pode deixar de reconhecer algum valor:

“Rosa, e Anarda”
Manoel Botelho de Oliveira

Rosa da formosura, Anarda bela
Igualmente se ostenta como a rosa;
Anarda mais que as flores é formosa,
Mais formosa que as flores brilha aquela.

A rosa com espinhos se desvela,
Arma-se Anarda espinhos de impiedosa;
Na fronte Anarda tem púrpura airosa,
A rosa é dos jardins purpúrea estrela.

Brota o carmim da rosa doce alento,
Respira olor de Anarda o carmim breve,
Ambas dos olhos são contentamento:

Mas esta diferença Anarda teve:
Que a rosa deve ao sol seu luzimento,
O sol seu luzimento a Anarda deve.

À ILHA DE MARÉ
TERMO DESTA CIDADE DA BAHIA

Jaz em oblíqua forma e prolongada
A terra de Maré toda cercada
De Neturno, que tenho o amor constante,
Lhe dá muitos abraços por amante,
E botando os braços dentro dela
A pretender gozar, por ser mui bela.
Nesta assistência tanto a senhoria,
E tanto a galanteia,
Que de amor, de Maré tem o apelido,
Como quem preza o amor de seu querido:
E por gosto da prendas amorosas,
Fica maré de rosas,
E vivendo nas ancias sucessivas,
São do amor marés vivas;
E se nas mortas menos a conhece,
Maré de saudades lhe prece.
A UM GRANDE SUJEITO INVEJADO E APLAUDIDO
Temerária, soberba, confiada,
Por altiva, por densa, por lustrosa,
A exalação, a névoa, a mariposa,
Sobe ao sol, cobre o dia, a luz lhe enfada.
Castigada, desfeita, malograda,
Por ousada, por débil, por briosa,
Ao raio, ao resplendor, à luz formosa,
Cai triste, fica vã, morre abrasada.
Contra vós solicita, empenha, altera,
Vil afeto, ira cega, ação perjura,
Forte ódio, rumor falso, inveja fera.
Esta cai, morre aquele, este não dura,
Que em vós logra, em vós acha, em vós venera,
Claro sol, dia cândido, luz pura.
Abaixo:
O Museu de Arte Moderna da Bahia
Construído no século XVII